Percebo no meu dia-a-dia, tanto profissional quanto pessoal a dificuldade que nós pais temos de lidar com o choro das crianças. Sim, o choro é irritante às vezes, principalmente quando estamos cansados ou tivemos um dia difícil e nem sequer tivemos tempo para conectar com o que estamos sentindo. Mas o choro nada mais é a forma de comunicar, do corpo colocar para fora algum tipo de desconforto, seja uma emoção que invade e é difícil de lidar (como raiva por uma frustração ou tristeza por uma perda); seja por uma necessidade como sono, fome, cansaço.
Aí para fazer com que o choro vá embora mais rápido, os pais recorrem a:
1-Gritos e safanões.
2- Calmantes como doces, chupetas, eletrônicos (smartphones, tablets), comida, etc.
3- Ou, se o choro é por um desejo não atendido, cede ao desejo para a criança parar de chorar.
E cada uma dessas escolhas, se usadas habitualmente, acaba sendo prejudicial. E por quê? Porque devemos pensar na educação como um projeto a longo prazo: o que for plantado hoje será colhido no futuro. Assim, as estratégias que ensinamos hoje aos nossos filhos para lidarem com as emoções e frustrações serão usadas no futuro para o adulto lidar com o que sente. Então no primeiro caso, por exemplo uma criança que é calada com gritos e safanões aprenderá que não tem direito de querer, vai reprimir sua vontade e seus sentimentos e não vai saber lidar com frustrações. De tanto reprimir o que sente o risco é deixar de querer e ser aquele tipo de pessoa que não sabe escolher. Vai se tornar obediente? Talvez, mas as custas da negação de si mesma; e se uma criança obediente é uma coisa que muitos desejam, um adulto sem vontade própria não é muito bem visto. Se optamos pela segunda opção, a mensagem que estamos passando aos nossos filhos é : quando as emoções tomarem conta, fujam, procurem algo externo que vai dar um alivio momentâneo e fará você não pensar no que está sentindo. E aí vocês devem ter imaginado o reflexo disso no futuro: os mais diversos tipos de fugas como comer compulsivamente, uso de álcool e drogas, trabalhar exaustivamente, remédios calmantes, etc. Ruim, não? E no terceiro caso? Crianças que tem tudo que pedem, acabam virando adultos que não sabem lidar com frustração. Que acham que o universo está aí para servi-los, que o outro tem que atender seus desejos. São os adultos mimados que vivem em um constante estado de insatisfação e que sofrem paradoxalmente com um intenso sentimento de vazio: quanto mais têm, mais esvaziados se sentem. Então qual a solução? É necessário primeiro avaliar com cuidado, qual o motivo do choro? Se for por uma necessidade não atendida como sono, cansaço, fome, dor ou aconchego o que deve ser feito é resolver a situação, cuidar da criança, enfim.
ATENÇÃO: NECESSIDADE ≠ CAPRICHO.
Se for por um susto, raiva, uma frustração por um pedido não atendido: simplesmente deixa a criança chorar. Esteja perto, seja empático, abrace, mas deixe fluir. Compartilhar emoções faz com que nos sintamos próximos dos outros e o choro ajuda aliviar, colocar para fora. Tente se conectar com o que a criança está sentindo, nomeie, explique. Depois de um tempo a criança, mais calma vai conseguir conversar e o adulto conseguirá orientar e pensar junto uma forma de lidar com aquela situação. Assim, a medida que a criança amadurece, vai aprendendo a lidar com suas emoções de uma forma saudável.
Nem sempre vai ser fácil, eu sei. Por isso é importante os pais não descuidarem de suas emoções e seus sentimentos também. É importante que os pais possam perceber seus limites, respeitar seu corpo e suas necessidades, não se cobrar e procurar ajuda profissional quando estiver muito difícil.
A pergunta de hoje é: Como aprendeu a lidar com as emoções? Qual a consequência hoje? Como lida com as emoções dos seus filhos?
Um grande abraço e até a próxima